Sobre a relação do ser com o tempo no fim da vida, e a cumplicidade do amor. Uma imersão no dia-a-dia de meus avós, que vivem juntos em uma casa centenária há mais de meio século.
Meu avô, Alberto Vicente de Souza, é um médico pediatra aposentado, que ama comer biscoito de polvilho assistindo a filmes de bangue-bangue. Ele esconde chocolate e frutas em seu armário, e sonha em ser rico com seus contos eróticos.
Minha avó, Lilia Farina de Souza, estudou matemática quando jovem, mas abandonou a ciência para cuidar da casa e de cinco filhos. Sua voz é afinada e, mesmo dentro de sua confusão mental, tenta se lembrar dos poemas que escrevera. é muito católica, e sempre que escuta o sino da Igreja pensa que é hora da Missa.
Meu avô quase não escuta mais. Minha avó quase não se lembra mais. O que ele fala, ela esquece, e o que ela diz, ele n�o ouve. Mas se amam, se completam e se complementam.